O túnel, de dias gomes: um drama, uma trama, uma alegoria

Abstract

Este artigo apresenta uma análise da peça teatral O túnel ([1968] 1991), de Dias Gomes, com o objetivo de refletir sobre como os recursos discursivos e estéticos mobilizados, assim como o emprego de estratégias escriturais bakhtinianas (ironia, dialogia, polifonia e paródia) podem favorecer, no teatro brasileiro moderno, rupturas com o drama clássico, além de possibilitar a reflexão sobre memória e ressignificação histórica pelas vias da ficção. Como aporte teórico para a análise do corpus, pautamo-nos nas obras de Bakhtin ([1965] 1987; [1929] 2013; [1979] 2015), e nos escritos de Rosenfeld (1982; 1985), Peixoto (1983), Pallotini (1988), Oliveira (2020), Figueiredo (2013), entre outros. Os resultados deste estudo evidenciaram que: a) embora consista em uma peça curta, quase um esquete, apresenta profundidade em termos de recursos estéticos, como a presença da paródia e do insólito; b) a obra denota demarcações discursivas obtidas por meio de diversos elementos, como a ironia, o dialogismo, as tipificações, a crítica política aos movimentos de direita e também de esquerda; c) o gênero dramático constitui-se como propício para a problematização e ressignificação histórica, possibilitando desconstruções em relação à denominada “forma aristotélica” do drama; e d) a obra de Dias Gomes permite captar elementos que focalizam tanto o contexto histórico quanto os recursos literários, possibilitando vislumbrar a ficção e a história na dramaturgia brasileira como vias pertinentes de confronto ao discurso oficializado nos tempos da ditadura militar brasileira.