ISSN [Impreso] 1012-1617 ISSN [Internet] 2244-8853 RECIBIDO: julio, 2015 ACEPTADO: febrero, 2016 Nádia Micheli Bindandi, 260 pp. 260—277 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil Pantanal: morphology and sedimentation process in Paraguay River, between the city of Caceres and the farm Saint Anthony of Legends, Brazil Nádia Micheli Bindandi Rede Municipal do município de Cáceres, estado de Mato Grosso, Brasil nadiamicheli@hotmail.com Célia Alves de Souza Universidade do Estado de Mato Grosso, Departamento de Geografía, Brasil celiaalvesgeo@globo.com Leila Nalis Paiva da Silva Andrade Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil leilanalis@hotmail.com Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 261 Resumo O presente estudo teve por objetivo averiguar a morfologia do canal do rio Paraguai e sua sedimentação no trecho entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres (MT). Esta área de estudo foi dividida em dois segmentos. Foram utilizadas imagens disponibilizadas pelo programa Google Earth, usando a ferramenta régua. O segmento I apresentou canal meandrante, cujo grau de meandramento variou entre 1,63 e 1,87, e várias barras de sedimentos, principalmente barras laterais. O segmento II exibe canal retilíneo devido ao embasamento rochoso da Província Serrana da margem esquerda do rio, na margem direita há uma faixa de planície de inundação com baias e lagoas. Várias ilhas também estão presentes neste trecho. Este segmento foi o que mais apresentou barras centrais, pois a dinâmica de sedimentação nos canais retilíneos favorece a ocorrência deste tipo deposicional. Palavras chave: Embarcações; padrão do canal; atividades antrópicas. Abstract The present study is aimed at investigating the morphology of the channel of the Paraguai river and its sedimentation in the stretch between the city of Cáceres and Fazenda Santo Antônio das Lendas, city of Cáceres (MT). This study field was divided into two segments. Images available from Google Earth software were used, by using the ruler tool. Segment I presented meandering channel whose degree of meandering varied between 1.63 and 1.87 and also several bars sediment mainly sidebars. Segment II exhibited straight channel due to the rocky basement of Mountainous Area of the left bank of the river, on the right bank there is a range of floodplain with bays and lagoons. Several islands are also present in this stretch. This was the segment that showed central bars, since the dynamics of sedimentation in straight channels favors the occurrence of depositional type. Key words: Vessels; channel pattern; anthropogenic activities. Nádia Micheli Bindandi, 262 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade 1. Introdução apresentando um quadro sócio-econômi- De acordo com Souza e Sousa (2009), o co-ambiental que exige uma abordagem Pantanal é um importante complexo pai- integrada, no sentido de um adequado enten- sagístico caracterizado pelo alagamento de dimento das relações do homem com o meio 140.000 km² que envolve terras dos estados físico. de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Con- Segundo Bordas e Semmelmann (2004), siderado a maior planície alagável continua dentre as práticas que mais afetam o ciclo da do mundo, a região pantaneira é plana, com hidrossedimentologia estão o desmatamento, altitudes que não ultrapassam 200 m acima a agricultura, a urbanização e a construção do nível do mar e declividade quase nula o de estradas. A navegação também se torna que favorece as inundações ao longo do rio um fator atuante relevante neste processo, Paraguai. uma vez que as embarcações a motor geram A biodiversidade de fauna e flora é um ondas que intensificam a erosão das mar- dos importantes atributos do Pantanal. De gens e contribuem para a sedimentação do acordo com Silva (2007), o pulso de inun- canal, que com o tempo pode resultar no dação que caracteriza esse bioma tem papel impedimento da navegação devido ao asso- determinante na estrutura e funcionamento reamento do canal. dos ecossistemas pantaneiros. De acordo com Souza (2004), Souza et al. O rio Paraguai tem grande importância (2012), Silva (2011) e Silva (2012), as águas do ambiental e econômica para o Brasil e para rio Paraguai estão sendo navegadas por mo- América Platina. Conforme o Ministério das dernas e potentes embarcações que dinami- Minas e Energia (1982), o alto curso deste zam a economia local favorecendo o turismo, rio é denominado de bacia do Alto Paraguai a pesca e o transporte de grãos. São chatas, (BAP), e possui uma área total de aproxima- lanchas, chalanas, barcos-hotéis, barcos damente 496.000 km², sendo que 396.800 pra pesca que viabilizam a mobilização de km² pertencem ao Brasil e 99.200 km² estão pessoas e diversos produtos entre diferentes em territórios da Bolívia e do Paraguai. Este regiões do país e da América Platina. trecho inclui importantes biomas como o A navegação por embarcações com moto- Cerrado e o Pantanal. res potentes impactam diretamente as mar- Souza e Sousa (2009) enfatizam que nas gens, acelerando o processo natural da dinâ- ultimas décadas o alto curso da bacia hidro- mica fluvial de erosão e deposição. Conforme gráfica do rio Paraguai vem sofrendo alte- Souza e Cunha (2009), a navegação tende a rações no seu meio físico. Essas alterações acelerar a ação erosiva provocada pela força são devido ao processo de ocupação e uso da água, uma vez que a potencializa quando desordenado dos recursos naturais. Tais propulsiona ondas que surgem em virtude recursos, antes preservados, foram degrada- dos impulsos realizados pelos motores das dos ou estão em processo de degradação ou embarcações. Ao encontrar as margens essa extinção, sendo esta área um dos exemplos água solapa os barrancos arrancando se- de que a intervenção massiva do homem dimentos, partes desses sedimentos vão se provocou mudanças no meio em detrimento acumulando no leito do rio e com o tempo do desenvolvimento econômico e, portanto, causam o assoreamento do canal. Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 263 Segundo Souza et al. (2012), o rio Para- Paraguai no município de Cáceres que vem guai possui diferentes formas de canal ao implicando em impactos negativos a este longo de seu percurso. A variação no padrão ambiente fluvial. do canal é causada pela litoestrutura regio- Conforme Christofoletti (1980), os tipos nal e pela sua morfologia. de canais correspondem ao modo de se pa- De acordo com Cunha (2010), os rios dronizar o arranjo espacial que o leito apre- espelham as condições naturais e as ativida- senta ao longo do rio. Os canais meândricos des humanas desenvolvidas na bacia hidro- são aqueles em que os rios descrevem curvas gráfica, sofrendo alterações e impactos no sinuosas, largas, harmoniosas e semelhantes comportamento da descarga, carga sólida e entre si, através de um trabalho contínuo de dissolvida e poluição das águas. escavação da margem côncava e deposição Segundo Souza et al. (2012), nos canais na margem convexa sendo, portanto, esta meândricos de pouca expressividade de a explicação para a maior ocorrência de largura a ação da navegação de grandes barras laterais. embarcações é ainda mais impactante, pois As barras laterais ou de meandros con- o barranco nos meandros acabam sendo sistem na acumulação de sedimentos re- diretamente impactado por essas embar- lativamente grosseiros no lado interno do cações que removem até mesmo vegetação canal meandrante. De acordo com Suguio e ciliar. Entretanto, a situação é ainda mais Bigarella (1990) as barras de meandros estão crítica quando a força da água se depara ligadas ao padrão de fluxo num canal mean- com margens desprotegidas, ou seja, sem a drante, sendo que a maior intensidade e ve- vegetação ciliar, pois estas se tornam mais locidade do fluxo ocorrem na margem cônca- suscetíveis à erosão. va e íngreme e diminui junto à margem Para Carvalho (1994), o sedimento no convexa onde estão as barras de meandro. meio líquido, ou no fundo dos cursos flu- É assim que se formam as fácies designadas viais, pode provocar diversos problemas por barra em pontal ou barra de meandro. que vão desde o impedimento da navegação Canais retilíneos, de acordo com Chris- ao assoreamento de portos, de reservatórios tofoletti (1980), são aqueles em que o rio e mudanças de qualidade da água. percorre um trajeto retilíneo sem se desviar No entanto, a navegação de embarcações de forma muito significativa de sua trajetó- a motores, não é a única a influenciar na se- ria normal em direção a foz. O autor ainda dimentação do canal do rio Paraguai. Além afirma que a extensão do canal reto em da navegação a existência de outras ativida- qualquer rio atingirá, no máximo, dez vezes des socioeconômicas, tais como a pecuária e o tamanho da largura no referido trecho. a urbanização nas margens do rio Paraguai Esse tipo de canal é mais raro na natureza e também contribuem para a sedimentação depende de fatores como controlamento por do canal. Silva (2012) aponta a existência linhas tectônicas ou embasamento rochoso. de áreas de pastagens nas margens do rio, Conforme Suguio e Bigarella (1990), nos a ocupação de barrancos e praias para a canais retilíneos o eixo de máxima veloci- instalação de acampamentos e também a dade do fluxo ocorre no centro do canal, navegação como atividades atuantes no rio decrescendo lentamente em direção às mar- Nádia Micheli Bindandi, 264 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade gens. Isto explica a ocorrência de bancos Segundo o Centro Brasileiro de Cur- de sedimentos tanto no centro quanto nas sos (CEBRAC, 2000) dentre os principais laterais do canal no período de estiagem, afluentes da bacia do rio Paraguai estão os época em que a vazão diminui e o fluxo se da margem direita, os rios Jauru, Sepotuba torna mais lento, favorecendo a deposição e Cabaçal. E da margem esquerda, os rios detrítica. Cuiabá (com seus afluentes São Lourenço e O objetivo desta pesquisa consistiu em Piquiri), Taquari, Miranda (com seu afluente averiguar a morfologia do canal do rio Pa- Aquidauana) e Apa, sendo este constituinte raguai e sua sedimentação no trecho entre a do limite sul do Pantanal brasileiro e fron- cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio teira territorial do Brasil com o Paraguai. O das Lendas, município de Cáceres (MT). Dis- rio Paraguai também tem como contribuin- cutindo os possíveis fatores que vem contri- tes diversos cursos menores. buindo para essa sedimentação, em especial A drenagem do trecho da área de estudo a navegação e também verificar se a nave- compreendido por esta pesquisa é constituí- gação está sendo afetada pela sedimentação da pelo rio Paraguai e por pequenos cursos do canal. d’água, sobressaindo-se o rio Jauru como rio de grande porte, afluente da margem direi- 2. Metodologia ta, sendo um dos principais contribuintes de água e carga sólida (Souza et al., 2012). 2.1. Área de estudo A área de estudo desta pesquisa compreen- 2.2. Procedimentos de o rio Paraguai desde a cidade de Cáceres metodológicos até a fazenda Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres, Mato Grosso, Brasil. A 2.2.1. Revisão teórica e conceitual pesquisa foi desenvolvida nos anos de 2013 Para elaboração deste estudo foi realizado e 2014 (Figura 1). levantamento bibliográfico em artigos cien- A área de estudo foi dividida em dois tíficos, livros sobre geomorfologia fluvial, segmentos ou compartimentos respectivos jornais, bem como buscado informações nos da montante para a jusante do rio Paraguai trabalhos desenvolvidos sobre dinâmica flu- (Quadro 1). vial, morfologia do canal, impactos ocorri- O estudo em segmentos foi adotado por dos na bacia do Alto Paraguai e navegação apresentar uma visão mais detalhada da no rio Paraguai. área de estudo. A compartimentação foi realizada considerando os tipos de canal e a 2.2.2. Elaboração dos mapas sedimentação no rio Paraguai. dos segmentos O rio Paraguai nasce nas encostas da Os mapas dos segmentos foram elaborados Serra dos Parecis, na região norte do estado a partir da imagem de satélite na escala de de Mato Grosso, fluindo na direção geral 1:100.000, sendo definidas quatro etapas, sul até a confluência com o rio Paraná, na descritas abaixo: altura da cidade de Corrientes, Argentina • Etapa 01 (aquisição das imagens): Par- (Carvalho, 1986). tindo da definição da área estudada foi Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 265 57°50’0’’W 57°40’0’’W 60°0’0’’W 40°0’0’’W Localização do Estado do Mato Grosso 60°0’0’’W 55°0’0’’W 50°0’0’’W Localização da Cidade de Cáceres Rio Paraguai e Jauru Kilometers 0 4.75 9.5 19 Figura 1 Localização da área de estudo que está compreendida entre a cidade de Cáceres e a da fazenda Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres (MT), 2013. Fonte: INPE na escala de 1:1.000.000 Inclui material de (2011). Todos os direitos reservados 16°40’0’’S 16°30’0’’S 16°20’0’’S 16°10’0’’S 15°0’0’’S 10°0’0’’S 30°0’0’’S 10°0’0’’S 0°0’0’’ Nádia Micheli Bindandi, 266 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade Quadro 1 Compartimentação e localização dos segmentos de estudo Segmentos Trecho de abrangência Localização I Da cidade de Cáceres a foz Lat. 16°03’ a 16°20’ do rio Jauru Long. 57°41’ a 57°46’ II Da foz do rio Jauru a fazenda Lat. 16°20’ a 16°41’ Santo Antônio das Lendas Long. 57°46’ a 57°50’ iniciada a aquisição das imagens que se- 2.2.3. Padrão de drenagem riam utilizadas na elaboração do mapa, O índice de sinuosidade, conforme Christo- a saber, imagens das órbitas/ponto: foletti (1980), representa a relação entre o 227-71 e 227-72 de 2013, para tanto, foi comprimento do canal e o comprimento do consultado o site do Instituto Nacional eixo no vale. Para ser considerado meândri- de Pesquisas Espaciais (INPE), no qual as co esse índice deve ser igual ou superior a mesmas foram adquiridas gratuitamente 1,5. Para isso, segue-se a seguinte fórmula: mediante um cadastro. CV • Etapa 02 (Processamento Digital de IS = CR Imagens): Após a aquisição das imagens orbitais, estas foram incorporadas ao Para verificar o canal retilíneo, foram usa- software Spring (INPE) versão 4.3.3, para das as técnicas propostas por Christofoletti realizar os seguintes procedimentos: co- (1980) e Cunha (2008), que afirmam que a rreção geométrica, georreferenciamen- extensão do canal reto em qualquer rio será to, contraste, composição colorida (RGB) de, no máximo, dez vezes o tamanho da e recorte. largura no referido trecho, sendo, portanto • Etapa 03: (elaboração de mapa e extremamente raros na natureza. acabamento cartográfico): De posse A largura maior foi obtida a partir da da imagem com composição colorida, observação das imagens do Google Earth foi utilizado o software ArcGIS versão (2013) e medida com a ferramenta régua 9.2; neste foram realizados os procedi- (opção linha) que este programa disponibi- mentos de elaboração do mapa temático, liza. Após ser detectada a maior largura do definição do Grid, acabamento cartográ- rio, esta foi multiplicada por 10, (L x10). fico e por fim foi exportado o mapa em formato JPG. 2.2.4. Sedimentação • Etapa 04: (obtenção das áreas das ba- A sedimentação no rio Paraguai entre a rras e morfologia do canal). Para obter cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio informações sobre áreas das barras de das Lendas foi detectada através do Google sedimentos e para identificar a morfolo- Earth (2013). As imagens de satélites na gia dos canais (meandrante e retilíneo), escala de 1: 5.000 permitiram identificar, usou no software ArcGis 9.3 utilizando localizar e medir o tamanho desses bancos as ferramentas da extensão ArcMap e do de sedimentos no período de estiagem, épo- ArcCatalog. Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 267 ca em que os bancos de sedimentos ficam No segmento I, o padrão de canal é expostos. meandrante e no o segmento II, é retilíneo. Para verificar o comprimento e largura Em todos os segmentos foram registrados das barras de sedimentos, largura do rio, foi sedimentação (barras centrais e laterais) utilizada a ferramenta régua, opção linha e na calha do rio e na planície de inundação, caminho, do Google Earth. Para obter área sendo que cada padrão de canal apresentou em m² das barras de sedimentos utilizou a uma dinâmica específica de sedimentação. formula: C X Lm (Comprimento X Largura média). 3.1. Morfologia e sedimentação no rio Paraguai entre a 3. Resultado e discussão cidade de Cáceres e a foz A área de estudo adotada por esta pesquisa do rio Jauru abrangeu aproximadamente 107 km do rio No segmento I, o rio Paraguai possui canal Paraguai. Foram 64 km no segmento I e 43 meandrante, com índice de sinuosidade de km no segmento II. As principais caracte- 1,63 (Figura 2). De acordo com Cunha (2003), rísticas da área de estudo estão dispostas os canais meândricos são encontrados com abaixo (Quadro 2). freqüência nas áreas úmidas cobertas por Quadro 2 Apresentação das principais características identificadas em cada segmento do rio Paraguai no trecho entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres, 2013 Segmento Características • Canal meandrante (curvas sinuosas, erosão da margem côncava e deposição na margem convexa) • 28 barras laterais na margem convexa • 6 barras centrais I • Vasta planície de inundação com diversas feições morfológicas • Ocorrência de ilhas devido o rompimento do colo do meandro • Neste trecho encontra-se a cidade de Cáceres e sua área de expansão urbana • É desenvolvida a pecuária no entorno e na margem do rio • A navegação é intensa com portos e ancoradouros • Canal retilíneo com leito bem definido • Controle estrutural na margem esquerda, em alguns trechos aflora as rochas do Grupo Alto Paraguai • A planície de inundação com diversas feições morfológicas é maior na margem direita devido ao controle estrutural da margem esquerda • Apresenta focos sem vegetação nativa na margem esquerda, onde há fazendas e hotéis II • Há a ocorrência de ilhas associada ao controle estrutural e ao processo de sedimentação • Ocorre a deposição de sedimentos no centro e nas laterais do canal, sendo 11 barras laterais e 11 barras centrais • Possui dinâmica fluvial caracterizada por maior velocidade da água no centro do canal, diminuindo em direção às margens, favorecendo a deposição central e lateral de sedimentos no período de estiagem • O rio Paraguai recebe água e sedimentos do rio Jauru, o maior afluente de toda a área de estudo Nádia Micheli Bindandi, 268 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade 57°50’0’’W 57°45’0’’W 57°40’0’’W Barras de Sedimentos I 0 2.5 5 10 km Curso de Água Rodovias Federais Projeção Universal Transversa de Mercator Rodovias Estaduais Meridiano Central -57° W.Gr Mancha Urbana Figura 2 Localização do segmento I, trecho entre a cidade de Cáceres e a foz do rio Jauru, município de Cáceres (MT). Mapa elaborado a partir de dados Cartográficos do IBGE/DSG na escala 1:100.000. Data de elaboração: novembro de 2013 16°15’0’’S 16°10’0’’S 16°5’0’’S Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 269 vegetação ciliar e descrevem curvas sinuo- sedimentos, sendo 6 barras centrais e 28 sas harmoniosas e semelhantes entre si. laterais. Essas barras apresentaram taman- Dentre as feições morfológicas que hos que variaram entre 1.075 e 46.476 m² caracterizam este segmento I estão baías, (Quadro 3). A ocorrência destes bancos está vazantes, braços, furados, lagoas, diques diretamente relacionada a dinâmica de marginais e ilhas (origem associada ao rom- erosão dos canais sinuosos, ou seja, erosão pimento do canal do meandro). da margem côncava e deposição na margem A mata ciliar neste segmento I encon- convexa, ao uso da terra no entorno (planal- tra-se parcialmente preservada. Foram to) e nas proximidades do canal e a nave- verificados alguns trechos sem vegetação gação que provoca erosão e remobilização nativa. A ausência da vegetação ciliar está de sedimentos. relacionada à urbanização e a pecuária. A Segundo Souza et al. (2012), nos últimos cidade de Cáceres está situada na margem anos houve um crescimento significativo esquerda neste primeiro segmento e tam- da navegação no rio Paraguai resultando bém se verifica áreas de pastagens ao longo no aumento do número de embarcações das margens do rio Paraguai. Verifica-se que trafegando pelo rio. São barcos de pequeno as margens preservadas são aquelas sujeitas e médio porte e grandes embarcações, ou à inundação periódicas. seja, os comboios de chatas que durante Segundo Silva (2011), o crescimento po- todo o ano transportam soja dos ancora- pulacional seguido de uma urbanização sem douros de Cáceres até Corumbá. O elevado planejamento com ocupação das margens número de embarcações a motor gera ondas do rio, somado ao incremento do turismo e que promovem a remoção de sedimentos o aumento da quantidade de embarcações das margens do rio. trafegando no rio Paraguai em Cáceres têm O movimento das águas do rio ocasiona- implicado em problemas ao ambiente flu- do pelos motores das embarcações acelera e vial, tais como a erosão marginal, o assorea- agrava o processo erosivo das margens cul- mento e a contaminação de suas águas. minando então na sedimentação do canal. Portanto, a pecuária, a urbanização Algumas barras, a exemplo da B3, B9, e, principalmente, a navegação por ser a B10 e B17 (Quadro 3), são compridas e estreitas atividade mais atuante em toda a extensão e estão distribuídas na curva do meandro, longitudinal do rio Paraguai e devido aos na margem convexa do canal. O tempo e efeitos constantes das embarcações a motor, os efeitos erosivos da água potencializados têm se constituído em significativos fato- pela navegação poderão aumentar esse acú- res de influencia para a sedimentação no mulo de sedimentos e tornar essas barras canal fluvial do rio Paraguai neste primeiro maiores, a exemplo das B12, B23, B24, B26 e segmento de estudo. Essa sedimentação tem B31 (Quadro 3). A B31 é a barra de sedimen- resultado na formação de barras centrais e to mais comprida de toda a área de estudo, laterais na margem esquerda (m.e.) e mar- ela possui 730 m de comprimento e está dis- gem direita (m.d.), (Quadro 3). posta na curva de um meandro (Quadro 3). Este primeiro segmento é o mais sedi- As batimetrias realizadas pela Marinha mentado. Foram detectadas 34 barras de mostraram que a profundidade media deste Nádia Micheli Bindandi, 270 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade Quadro 3 Sedimentação no segmento I entre a cidade de Cáceres e a foz do rio Jauru, município de Cáceres (MT), 2013 Tipo de barra Latitude Sul Longitude Compri- Largura Área Largura Oeste mento da barra m² do rio no da barra (m) trecho* (m) (m) B1 Central 16º03’47.8” 57º41’21.4” 22 9.5 1.075 104 B2 Central 16º03’49.04 57º41’21.4” 45 5 1.579 70 B3 Lateral (m. e.) 16º04’37.17” 57º42’18.4” 460 18 4.604 230 B4 Lateral (m. e.) 16º04’43.04’’ 57º42’22.9” 208 32 1.865 256 B5 Central 16º05’10.14’’ 57º42’22.4” 30 22 4.057 234 B6 Central 16°05’11.46’’ 57°42’21.3’’ 33 6 1.353 363 B7 Lateral (m. d.) 16º05’30.72’’ 57º42’25.7” 303 35 5.726 146 B8 Lateral (m. e.) 16º05’48.01’’ 57º42’32.5” 267 35 3.928 209 B9 Lateral (m. d.) 16º05’48’.31’’ 57º42’52.8” 402 30 6.155 158 B10 Lateral (m. e.) 16º05’45.18’’ 57º43’14.1” 486 111 18.346 213 B11 Lateral (m. d.) 16º06’09.76’’ 57º43’18.9” 352 45 6.476 148 B12 Lateral (m. e.) 16º06’00.24’’ 57°43’56.8’’ 671 64 15.642 143 B13 Lateral (m. d.) 16°06’48.69’’ 57°43’38.1’’ 246 37 5.166 166 B14 Lateral (m. e.) 16°06’54.47’’ 57°44’03.1’’ 375 83 15.000 197 B15 Lateral (m. e.) 16°07’30.63’’ 57°43’47.06’’ 339 28 5.085 252 B16 Lateral (m. d.) 16°08’28.35’’ 57°44’26.57’’ 392 70 14.438 162 B17 Lateral (m. e.) 16°08’31.01’’ 57º44’51.16’’ 135 21 1.485 198 B18 Lateral (m. e.) 16°08’49.06’’ 57°45’08.1’’ 560 51 11.410 97 B19 Lateral (m. d.) 16°09’02.76’’ 57°44’47.3’’ 233 106 15.436 183 B20 Lateral (m. d.) 16°08’54.32’’ 57°45’55.9’’ 192 20 1.664 177 B21 Lateral (m. d.) 16°10’18.22’’ 57°46’15.0’’ 240 48 6.432 200 B22 Lateral (m. e.) 16°10’21.18’’ 57°46’45.2’’ 311 36 4.613 155 B23 Lateral (m. d.) 16°11’03.22’’ 57°46’53.7’’ 338 115 18.590 224 B24 Lateral (m. d.) 16°12’12.60’’ 57°45’53.5’’ 426 126 27.264 233 B25 Lateral (m. d.) 16°13’36.07’’ 57°44’14.3’’ 228 58 6.885 200 B26 Lateral (m. e) 16°13’53.4’’ 57°44’45.4’’ 542 111 22.041 304 B27 Lateral (m. e.) 16°14’54.18’’ 57°45’14.1’’ 178 130 11.392 329 B28 Central 16°14’59.6’’ 57°45’17.9’’ 196 80 8.134 323 B29 Lateral (m. e.) 16º14’52.35” 57º46’29.1” 242 55 5.614 177 B30 Lateral (m. e.) 16°17’08.00’’ 57°46’38.5’’ 345 56 8.526 165 B31 Lateral (m. e.) 16°17’34.80’’ 57°47’05.0’’ 730 121 46.476 292 B32 Lateral (m. d.) 16°18’01.36’’ 57°46’36.7’’ 168 65 4.435 200 B33 Lateral (m. d) 16°18’36.44’’ 57°46’18.7’’ 420 98 21.770 228 B34 Central 16º18’58.52’’ 57º46’20.42’’ 50 76 3.000 484 *A largura inclui uma margem a outra do rio, envolvendo o banco de sedimento Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 271 trecho é de 1.25 m. A sedimentação na calha 3.2. Morfologia e sedimentação do rio, em alguns trechos, provoca a dimi- no rio Paraguai entre a foz nuição da profundidade e o espraiamento do rio Jauru e a fazenda da água, resultando no aumento da largura Santo Antônio das Lendas do rio. O segmento II apresenta canal retilíneo Este fator também tem gerado dis- influenciado pelo controle estrutural da cussões em relação a implantação do proje- Província Serrana da margem esquerda. Em to da Hidrovia Paraguai-Paraná, pois além alguns trechos deste segmento registram-se da reutilização a proposta também indica, afloramentos rochosos. À margem direita se como obra de infraestrutura, a dragagem do encontra uma estreita faixa de planície de canal visando seu aprofundamento, pois no inundação com a presença de baías e lagoas período de estiagem este se torna mais raso (Figura 3). inviabilizando em alguns trechos a passa- O embasamento rochoso também é o gem de grandes comboios. De acordo com principal definidor do padrão do canal do o projeto essas obras de engenharia torna- rio Paraguai neste trecho de estudo. De riam o rio uma hidrovia navegável durante acordo com Souza (2004), o rio se apresenta todo o ano. retilíneo porque sofre influencia da litoes- Entretanto, todas essas obras de infraes- trutura regional da margem esquerda que trutura para a implantação do projeto da incide diretamente sobre o mesmo deli- Hidrovia Paraguai-Paraná impactaria o am- neando um padrão mais retilíneo. Neste biente hidrológico e biótico de espécies de trecho a largura maior do rio foi de 535 m. plantas e animais da bacia do Alto Paraguai. Para ser considerado retilíneo o rio Para- Embora resulte em interferência e im- guai teria que apresentar no mínimo 5.350 pacto ambiental ao rio, a dragagem acaba m. Entretanto, a extensão de canal retilíneo sendo uma solução compensatória para neste segmento alcançou 15.000 m. retirada de parte do sedimento acumulado. Em vários pontos desse trecho, espe- Neste segmento I, a dragagem ocorre em cificamente na margem esquerda, ocorre vários pontos, inclusive na altura da cidade afloramento de rochas (arenitos) e conglo- de Cáceres, onde há dragas que atuam cons- merados do Quaternário, mantendo a esta- tantemente retirando areia que é vendida bilidade no canal, constituindo obstáculo à para ser utilizada na construção civil. migração lateral da calha no sentido oeste As barras 27 e 28 encostaram a uma ilha para leste. Em ambas as margens a mata fluvial e formou um bloqueio à passagem, ciliar se mantém preservada. deixando livre apenas um pequeno trecho Neste segmento II foi registrada a oco- do rio. Esta ilha apresenta 385 metros de rrência de barras laterais e centrais, com comprimento e 70 metros de largura. Dessa aumento significativo da largura do canal forma, os sedimentos acumulados corres- que apresentou 11 barras de sedimentos pondem a 54 % da largura do rio e a ilha centrais e 11 laterais, totalizando 22 barras 21 %, sendo que somente 25 % do canal de sedimentos. O tamanho dessas barras encontram-se livre para passagem neste variou entre 484 e 42.570 m² (Quadro 4). trecho (Quadro 03). Nádia Micheli Bindandi, 272 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade 57°55’0’’W 57°50’0’’W 57°45’0’’W 57°40’0’’W Barras de Sedimentos II 0 2.5 5 10 km Curso de Água Projeção Universal Transversa de Mercator Rodovias Federais Meridiano Central -57° W.Gr Rodovias Estaduais Figura 3 Localização do segmento II, trecho entre a foz do rio Jauru e a fazenda Santo Antônio das Lendas. Mapa elaborado a partir de dados Cartográficos do IBGE/DSG na escala 1:100.000. Data de elaboração: novembro de 2013 16°40’0’’S 16°35’0’’S 16°30’0’’S 16°25’0’’S 16°20’0’’S Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 273 Além do aumento da largura do rio, as presença de dragas para remoção de areia barras centrais foram detectadas em maior ao longo desse trecho. quantidade no segmento II. Esta diferença A barra central 03 (Quadro 4), apresenta está relacionada ao padrão retilíneo, a baixa estabilidade se comparada com as demais. ou ausência de meandros favorece uma A vegetação rasteira se restabeleceu nesse maior concentração do fluxo e de sedimen- banco e, possivelmente ele poderá tornar-se tos no centro do canal, porém não impedin- uma ilha fluvial. Outro fator relevante é do o acúmulo também nas margens. que algumas barras centrais se formaram a A presença de barras centrais e aumento montante de ilhas fluviais, a exemplo da B2, da largura da calha provocou a diminuição B5, B8, B10 e B11 (Quadro 4). A ilha torna-se da profundidade do canal no nível da água, obstáculos e provoca a diminuição da velo- tornando esse trecho inviável para a nave- cidade do fluxo, favorecendo a ocorrência gação no período de estiagem. Verificou a de um acumulo de sedimentos nessas áreas. Quadro 4 Sedimentação no segmento II entre a foz do rio Jauru e a fazenda Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres (MT), 2013. Coordenadas geográficas Tamanho da barra Largura Tipo de barra Compri- Largura Área do rio no Latitude Sul Longitude mento máxima m² trechoOeste (m) (m) (m) B1 Lateral (m. e.) 16°20’53.80’’ 57°46’43.20’’ 152 61 2.736 303 B2 Central 16°21’16.56’’ 57°46’17.61’’ 47 19 484 371 B3 Central 16°25’00.32’’ 57°46’59.63’’ 350 131 28.299 446 B4 Central 16°26’04.12’’ 57°47’01.78’’ 130 86 5.741 307 B5 Central 16°27’45.17’’ 57°47’25.45’’ 47 67 2.365 535 B6 Lateral (m. d.) 16°28’48.87’’ 57°48’22.99’’ 411 192 42.567 456 B7 Lateral (m. e.) 16°29’48.06’’ 57°48’29.38’’ 456 89 25.251 462 B8 Central 16°32’57.37’’ 57°49’45.41’’ 314 105 27.422 500 B9 Lateral (m. d.) 16°33’45.39’’ 57°50’16.05’’ 113 50 2.847 284 B10 Central 16°34’23.22’’ 57°50’39.11’’ 300 78 12.450 483 B11 Central 16°34’33.00’’ 57°50’41.98’’ 356 125 22.214 400 B12 Central 16°34’58.68’’ 57°50’47.49’’ 55 72 2.658 385 B13 Lateral (m. d.) 16°37’07.37’’ 57°50’55.59’’ 198 93 10.164 386 B14 Central 16°37’42.17’’ 57°50’49.74’’ 156 82 8.236 374 B15 Central 16°38’07.89’’ 57°51’20.50’’ 120 87 6.000 245 B16 Lateral (m. e.) 16°38’33.11’’ 57°51’36.51’’ 231 146 19.173 374 B17 Lateral (m. e.) 16°39’12.07’’ 57°51’29.65’’ 645 128 42.570 521 B18 Central 16°39’30.41’’ 57°51’36.51’’ 545 75 21.877 275 B19 Lateral (m. e.) 16°39’58.15’’ 57°51’13.49’’ 106 20 1.457 235 B20 Lateral (m. d.) 16°40’26.58’’ 57°51’27.36’’ 411 86 16.686 262 B21 Lateral (m. e.) 16°40’56.93’’ 57°51’12.70’’ 152 92 7.500 256 B22 Lateral (m. e.) 16°41’09.67’’ 57°50’48.65’’ 326 64 11.084 471 Nádia Micheli Bindandi, 274 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade As fontes de sedimentos neste segmento mando barras centrais e submersas. Embora II podem estar relacionadas à capacidade o canal neste trecho mais retilíneo apresente de transporte de sedimentos grosseiros do largura considerável, nos pontos em que há rio Paraguai e aporte de sedimentos do rio ilhas a largura do canal se torna ainda maior, Jauru que deságua na margem esquerda do no caso mais expressivo o rio apresentou rio Paraguai. De acordo com Andrade et al. canal com 535 metros de largura. (2012), nas últimas décadas, a bacia hidro- Segundo Souza et al. (2012), no segun- gráfica do rio Jauru vem sofrendo alterações do segmento a maior definição da calha no meio físico, principalmente devido ao em virtude do condicionamento estrutural processo desordenado de ocupação e uso da formação rochosa, faz com que o fluxo dos recursos naturais, que por sua vez, vem concentre-se no leito aumentando também resultando na sua sedimentação. a largura do canal, que varia neste trecho Nos trechos mais retilíneos, como é o entre 200 e 500 m. caso do segmento II, a dinâmica fluvial es- Quanto à sedimentação lateral desta- pecifica tende a favorecer maior deposição cam-se algumas feições deposicionais como de sedimentos na calha e nas laterais do rio, diques marginais, cordões arenosos e barras principalmente no período de estiagem. Os laterais originados da deposição de sedimen- afloramentos rochosos na calha e as ilhas tos; essas feições são formadas principal- fluviais também são barramentos naturais mente no período de estiagem quando o rio de sedimentos. Neste segmento II há dez diminui sua vazão e capacidade de transpor- ilhas. A origem destas ilhas fluviais está as- tar sedimentos. sociada aos afloramentos rochosos no leito e Neste segmento, registra-se a constante ao processo de sedimentação. A ocorrência dragagem de sedimentos para viabilizar a dessas ilhas provoca a bifurcação no canal e navegação porque no período de estiagem consequentemente diminui o fluxo no leito a calha do rio se torna mais rasa. Entretan- principal. to, mesmo com as dragagens foi possível Algumas ilhas neste segmento apresen- detectar várias barras de sedimentos, tanto tam mais de 2 km de comprimento e largura centrais como laterais, no rio Paraguai da de até 1.280 m. A montante dessas ilhas oco- foz do rio Jauru à fazenda Santo Antônio das rre processo de sedimentação intenso for- Lendas. Pantanal: morfologia e processo de sedimentação no rio Paraguai, entre a cidade de Cáceres e a fazenda Santo Antônio das Lendas, Brasil, pp. 260—277 275 4. Considerações finais presentes neste trecho. Essas atividades Percebe-se que a sedimentação no rio promovem a retirada da vegetação nativa Paraguai na área de estudo adotada por causando prejuízos ao ambiente fluvial. esta pesquisa está sendo significativamente A navegação, atividade desenvolvida influenciada pela navegação. Ação da água em todo o curso do rio Paraguai, torna-se motivada pelos motores dessas embar- ainda mais impactante em margens sem cações tem resultado na aparição de inúme- vegetação ciliar, pois as ondas geradas por ros bancos de sedimentos dentro do canal, embarcações a motor encontram menos os quais dinamicamente vêm se formando e dificuldades para erodir essas margens, transformando a paisagem do rio Paraguai. que por sua vez, perde grande quantidade Os resultados deste estudo indicaram de sedimentos para o fundo do canal. Nos dois tipos fisionômicos de canal no rio segmentos acúmulo de sedimentos no canal Paraguai: o meandrante no segmento I e vem requerendo dragagens constantes que o retilíneo no segmento II. Em toda a área favorece a indústria de construção civil e, de estudo ocorre a presença de planície de principalmente a navegação. inundação com feições morfológicas diver- No segmento I, onde ocorre canal mean- sas. drante, a navegação se torna ainda mais O rio Paraguai, na área em estudo, apre- impactante ao rio, pois o embate direto de sentou intensa sedimentação na forma de embarcações cargueiras nas margens pro- barras laterais e centrais. Cada padrão de vocam não só a perda de solo e o assorea- canal tem uma dinâmica fluvial específica mento, mas também tragam vegetação para que contribui para a sedimentação, entre- dentro do canal. tanto atividades antrópicas desenvolvidas A presença de maior quantidade de ba- no entorno, como a pecuária, a urbanização rras centrais no segmento II, com canal reti- e edificações e, dentro da bacia hidrográfica, líneo, deve-se também a dinâmica especifica como a navegação, aceleram esse processo, deste padrão de canal. Nos canais retilíneos ocasionando maior erosão no canal e, por- a velocidade da água é maior no centro e tanto, maior sedimentação. diminui em direção as margens, isso tem Os segmentos onde ocorrem sedimen- favorecido a deposição de sedimentos tanto tação intensa foram 34 barras de sedimen- nas laterais quanto no centro do canal. tos no primeiro segmento e 22 barras no A navegação, atividade mais atuante nos segundo. Isso se deve ao fato de que esses dois segmentos de estudo, tem se mostrado dois segmentos são os que mais possuem na de maior contribuição para a hidrossedi- atividades antrópicas no entorno do rio mentação do rio no trecho estudado. Toda- Paraguai. Além da navegação, fazendas de via, essa sedimentação tem resultado em criação de gado, a presença da cidade de obstáculos a esta mesma atividade, sendo Cáceres na margem esquerda e edificações necessária a dragagem em alguns trechos de cunho turístico nas margens do rio estão do canal para viabilizar a navegação. Nádia Micheli Bindandi, 276 Célia Alves de Souza e Leila Nalis Paiva da Silva Andrade 5. Referências citadas ANDRADE, L. N. P. S.; RITELA, A.; PERETTO, A.; SOUZA, C. A de.; MATOS, E. H. de.; SOUSA, J. B.; ARAÚJO, R. M. de; SANTOS, Z. G. dos.; SOUZA, M. A. de. e W. S. MEIRELES. 2012. «Uso e Ocupação da bacia hidrográfica do rio Jauru». En: C. A. de SOUZA., J. B. de SOUSA e L. N. P. S. ANDRADE (Orgs.). Bacia Hidrográfica do rio Jauru – Mato Grosso: dinâmica espa- cial e impactos associados. RiMa Editora. São Carlos (SP), Brasil. BORDAS, M. P. e F. R. SEMMELMANN. 2004. «Elementos de engenharia de sedimentos». En: C. E. M. TUCCI. Hidrologia, Ciência e Aplicação. (3.ª ed.). Editora da UFGS/ABRH. Porto Alegre (RS), Brasil. CARVALHO, N. de O. 1986. Hidrologia da bacia do Alto Paraguai. Simpósio sobre recursos naturais e socioeconômico do Pantanal. 43-49. Anais. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA-DDT). Co- rumbá / Brasília, Brasil CARVALHO, N. de O. 1994. 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